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Airf'Auga 4

Metalurgia, por Juca Pimentel

Juca Pimentel

 

 

Anemómetro

 

 

 

Ali vai ele,
o coito!
Ali vai ela,
a sombra!
Om os meus olhos negros de panos
de censos e fúteis enganos
o último take da tua enodora exctimada, lodora,
tútril, enxangue, ólida, quesh´ra, parfidean, lockia,
loucura.
Os macacos escapam do toque como pequenas maravilhas todas feitas de pérola enrubescida pelo Sol que queima como um farol anunciando a extrema loucura
que evapora os sentidos para os tornar pontuais
a ponto de serem ponto no meio do círculo
flutuante onde as mortes se amam.

Juca Pimentel
Os bons sentimentos não são boa musa…
Vai dar-se início à Arte. Vou tocar
Uma punheta!

Sorvo o teu odor como se fosse
um pincel pincel de formas bem augustas
e Agosto é o tempo de cobrir a ramagem
que verte orvalho e termos de esporas.
A tua esporra poderá ser bem vinda
se for a de ocasião e de termos
inequívocos e fortes como se fosses
a madrepérola do tempo em po po.
A fome que temos é grande
e assim aspiramos o odor do vazio.
Da noite…
A sonolência que te invade é toda feita de pérola
e assim aspiras o odor do vazio.
Da noite…

És a minha sombra volátil e suspensa.
Ternura antes de tempo, fútil, encomenda extraviada.
És a paixão do excremento,
subtil, encomenda extraviada.
Longo eterno beijo na nuca entreaberta pelos
lábios semicerrados de sangue.

Vermelho o teu olhar e enfim sós.
Eu tu e o machado suspenso da gaiola em cima
do chinês.
Afinal o chinês é alemão.
Som de violinos são as vozes dos entes parentes
e crianças infantes de sagres preta fresca à noite
numa mesa de Bar verde. O Bar.
Tantas palavras e o que resta; a mortandade
do espasmo senil que gesticula perante mim,
em frente a mim,
acenando um cadáver isquesito
de contornos fáceis e previsíveis
mas perto da mãe Sol transexuada.
Quero-te e entanto não estás, pelo menos como
devias. És-me tão somente.
Como foste criar a sombra.
A eterna. A sombra majestosa do início da noite das
vinte e três horas e treze minutos no relógio cinco adiantado.
Analfos.
Clima ensurdecedor e pobre de ser
útil porque queima. (Os teus ventres salientes são ensurdecedores)
Afinal o chinês alemão é alemã.
Mais violinos a comporem bela música para os meus ouvidos.
Acaso paraíso terá esta definição?
Lógicas em mim e de mim afora dentro de mim e sons e
violinos e chineses alemãs por implicação matemática, mas
aqui a matemática está a mais, as coisas deveriam ser
lógicas apenas por implicação, e instruendos
de instrumentos nas mãos, história, agonias talvez
do século III e turbinas com os cornos no chão, e
turquídeas ferozes sem o sentido correcto, e vales
a subir um escorpião todo feito de pénis e todo
implodindo-me na cara.
Um apenas som espera do outro lado do salão,
as mãos unem-se pela ponta dos dedos antes enfiados em
cetins de crosta, com as velas incendiadas nos cabelos
das Níneves que dançam.
Rostos de corda, notas nos dentes, Mozart nos regaços,
olhos nas súplicas… e cada vez mais
plurais em grupo de dois.
Longamente o teu olhar persegue-me
doce maravilha esta fuga de pernas no ar em cima
do cadafalso
veloz esta súplica que tende a sentir o infinito muito maior
do que o imaginado
longo olhar vazio cheio de cheias no país da eterna secura
funerais aguentam o meu corpo
cortejo imagem fútil esta a do cortejo que segue atrás.

Antes foi o tempo das misericórdias, vestes incendiadas do
desejo, antes foi o tempo das carícias nos ventres inexistentes das orquestras, dos violinos.
Coisos. Luvas. Larvas. Ternas. Rouquidões.
Vejo as pessoas mas não as sinto. Quer dizer, sinto-as
de uma forma que julgo não ser perfeita, única, ou pelo
menos multicolor, sonora, completamente única.

Os toques fortuitos nos guarda-chuvas apenas me dizem que chove na cabeça
destas gentes de pénis murcho em direcção ao trabalho.

Três ponto
Depois da morte, elevado ás honras immortais
Desprezado, obscuro e espoliado

 

O desprezo, a obscuridade e a espoliação do contemporâneo poderá ser a fonte da sua imortalidade. As honras poderão ser nada mais do que germes que minam a consciência, pois a elevam da categoria humana e assim a terminam. Homens elevados a Deuses são apenas falsos homens. As estátuas matam mais do que a fome.

 

Os novos olhos são-no eloquentemente,
com pontas de espasmos senis e febris e sonoros como um peixe.
Ânus transversais querem-se amenos e
aconchegados de medo.
Torna-se tudo reflexo e despojos verdes analfos
pela tempestade fora. O meu odor não é o teu.
E assim a realidade tomba de lado até tu desapareceres.
Porventura desconcertante?!
Dois melões e um pudim!
Que sensual esta mulher de dois melões e um pudim.
Passas, passas, olhas e não tens cheiro porque não te cheiro
porque passas, passas e apenas olhas.
De bom grado agarrava-te um peito e
o mostrava ás minhas gentes.
Um dos teus peitos apenas seria um, mais um,
mas um cheio de todo, todo cheio de toque,
todo tocado pelas minhas gentes de peito na mão,
com o teu peito na mão que seria uno e perfeito como o teu
outro peito.
E agarrava-te o teu peito menos um, um menos um
elevado ao infinito das minhas gentes austeras e
risonhas porque esperam algo de mim.
E eu dar-lhes-ia o teu peito zero.
Analfos.
Estonteante a tua sobriedade piedosa de Deusa.
Om os meus olhos são-no imperfeitamente,
e mamo-te como um desesperado.

Ontem aquela mulher era um anjo.
Ontem que foi ontem e será sempre ontem
na comodidade das ondas.

Tu deixas-me maluco.
Domingo de manhã.
Claro está que a meta morfose é
um paradigma que só a inteligência justifica e
demonstra. Um ocaso imenso de ficção.
E claro está que temos um censo fora da lógica,
e ilógica porque lemos e estamos imersos em céu azul dentro das cidades.
Antes do tempo.
Antes do tempo.
Blá-blá que te esfumas e partes como sempre fizeste.
Terror no circuito.
Em frente a uma porta quase lá.
Em frente ao olho esquerdo em frente do buraco.
A tua fechadura é imensa.
Brasa e calor na face esquerda. A tua pele de água queima.
O teu mamilo é enorme, pujante, escuro pela luz da lâmpada,
eternamente esquerdo, dentes, dentes nele, dentes no
mamilo escuro pela luz da lâmpada, mandíbulas.

Saio, e afunilo o som dos meus passos, pequenos e a contratempo,
duros, sólidos, como gaitas de foles tão rapidamente cheios como vazios.
O dia não nasceu há muito, pelo que as ondas da multidão
tornam a rua um pequeno ribeiro sem peixes nem ostras
cheias de pérolas que um dia estarão nestas montras. O meu reflexo
esvaziado nos vidros destas montras assemelha-se a um pequeno riacho
com peixes e ostras cheias de pérolas. Vou comprar cigarros naquele
café da esquina com mulher estilizada nela. Vou também dizer adeus
a essa mulher que dorme ainda entre as rugas dos meus lençóis.
-Mulher sólida, perpétua, que fazes café na manhã que é
ainda pequena coisa em breve majestosa mas pequena agora.
Tomo o café com pequenos goles. Sinto um cheio aqui dentro
do meu querer, um cheio grande e voluptuoso,
tão perto de se tornar tudo. O sono vai descendo à terra
como um pássaro gigante. Eleva-se dos meus pés um pequeno
pó quando me dirijo ao balcão e peço um maço de cigarros,
aquele ali, do lado direito, o primeiro da fila da direita, em
cima, não, o outro, sim, esse, obrigado.
Saio, e afunilo o som dos meus passos, pequenos e a contratempo,
duros , sólidos, como gaitas de foles tão rapidamente cheios como
vazios. Um breve olhar pelo meu pequeno mundo mostra-me
A minha pequena grandeza. Esta cidade poderia muito bem
um dia matar-me.

Comboio do mundo, súplica em uníssono sem acento,
rosa a florir no sapato, de solas desfeitas, paredes vertidas na horizontal,
medíocre cantilena de sangue.
Os medos fundem-se aqui,
como estamos livres do mundo e de nós, arriba,
frente para a frente que se quer vício e não rotina,
e amenas obras nos leitos, resíduos de mim.
Temos um olho demasiado fechado, os outros atiram pedras
e nós continuamos com um olho demasiado ranhoso.
Ala para a frente que se faz tarde.
Acima os cumes acima que estão longe, estas subidas e
pantominas nos vales, estes fusíveis da unidade quebrada.
Som, movimento, gargalhadas, uma porta que se fecha, não, não,

vozes completamente desconhecidas, suave embalo, a frente está
atrás de mim, nas minhas costas, e eu não a vejo, vejo
apenas o que já esteve à minha frente mas está agora atrás de mim,
mas de frente para mim, porque eu sigo de costas voltadas para
a frente a para algumas gargalhadas, ela está a pensar em… sei lá,
sente, amigo, achas que vou cair?
Cheiro a presunção.
As hormonas explodem, seios tesos, pissa que apetece morder,
cona sonora de vento.

Treze vozes que se juntam aqui.
Estão aqui. Sentadas pela estrada fora e amenas.
Antes volúvel que vulva aparente.

Política e ciência: o mito do desespero.

 

Analfo este som.
Vibrante este som.
Inteligência aberta na carótida.
Fosso no ardil do cão com cio,
funesta majestade de sombras feita e impelida.

 

 

O mundo está de antemão fodido.
E eu à cabeça!

 

 

 

Linda mulher de cornos dilacerados, vestes de sombra os passos atrás marcados, atrás de ti.
Tens os olhos incendiados por uma qualquer perífrase do espírito, sanguessuga da mente, e volátil és na dispersão,
meu cruel suicídio.
Nas tuas mãos os cantos pareciam diurnos, para se anteverem no escuro mais tarde, olhos, em brasa.

Ai a mente de quem é um e não dois e meio.
Linda visionária do tempo.
As armas ao alto dão-se nas datas de festa, na data de dias enormes que se seguem a esta noite, se os houver.

 

 

 

 

Cercadura

 

 

 

O romance trepa pelas
paredes como uma andorinha ferida
teimando o seu voo.
Funde-se com anemia
na alma das gentes de espírito
que trepam pelas paredes como doidos.
Os hediondos estéticos assumem
o seu amor por aquilo que excita,
consomem as entranhas em jantares de pompa,
e fornicam a arte por amor ao Deus.
Regular a beleza é cercar os sentidos.
E o romance trepa os sentidos
com paredes hediondas.
Crer na Beleza é morrer.

Os Amantes dispersam-se pelos campos nus
de vergonha.
Num voo rasante cortam
as amarras que os prende ao sol pedra,
beijam-se num atónito sentido de si,
a estética prende-os ao sonho de outro.
É tempo de se espetar as agulhas
no âmago do querer,
inflamar o sangue morto
com a alucinação do romance.
Os olhos turvos animam-se perante
a sua própria imagem,
olhos que querem o fundo de si,
olhos que se amam como se fossem únicos.
E tramas de conas, pissas.
Sombras voláteis.
Batem-se as portas
num tremer constante de pó.
Quando o trono,
bandeira encenada,
é vertido em súplicas a três dimensões.
Pois quero que estas palavras queimem.

O habitante menos um
revolve a sua origem de homem-todo
para se sentir presença em rodopio.
Os tempos trocados
afirmam-no em dor.
Quando os hediondos plasmáticos
se fundem para tolher o passo do simples de espírito.
É sempre este tempo de penúria.

O cancro foge da mente em forma de ondas.
O cancro é bem vindo quando é do próprio dia.
A sua maravilha e a dos cornos confundem-se
como sombras,
é deles o trono nos céus.
Como me apetece esbracejar o corpo,
dominá-lo no anti momento da sua desgraça
queda.
As cinzas queimam-se ao vento suave,
implodem os tronos que deixam para trás,
o seu tempo será o de anemia
e lógicas de fundos em brasa,
pernoitarão para sempre no mistério.
Como me apetece esbracejar o corpo,
atirá-lo no anti momento da sua desgraça
queda.

Coloco os cornos
todos os dias que me embelezo.
São bem belas estas astes que me encimam
a inteligência.
Por isso mesmo estou à vontade
para continuar a minha estupidez.

Quando se ama
é preciso estalar três vezes os dedos.
Pois o início é o tabu.
A não promessa como compromisso
maior.
O desvario.
Olhos nos dedos de morte.
Até se esgrimar a sensação
do fundo que submerge.
Não percebo bem o que digo
mas sinto-o demasiado.
Como de resto se pode
sentir tudo o que apenas
pertence ao desejo.

O Romance quando nasce
vem sacado de roubo.
Um tumulto de tronos no Hediondo.
As mulheres gostam deles nas orelhas,
para que se tornem
enfim quase belas,
pois não haverá maior enternecimento
do que o mistério.
Os seus beijos pálidos assemelham-se
a rasgos de heroísmo,
as suas cabeças tontas assemelham-se
a caralhos ao vento,
porcos quanto inocentes.
Como toda a gente que conheço.
Os hediondos estéticos são indomáveis,
e matam para o provar.

 

 

 

 

Líquido

 

 

 

O alheamento
nas trombas,
nos volúveis estados
de metalurgia,
encandeiam a posse
como se esta fosse para bem
longe,
para o fim da utopia
ou do fardo que dela cresce.
Essa utopia lenta,
tipo valsa de fúnebre alento
com ondas de vermes que dançam
nas balaustradas do desencanto.
Essas vozes em
coro desarmonioso,
fausto e pobre
no mesmo sentido desabrido.
Se calasse
os tempos,
eles me diriam que nada mais podem
fazer
ou alhear
e que tudo não passa
de sombras,
novamente estas sombras
de olhos em furos de fome.
Tornozelos vazios.
Nas tuas eternidades que
se afastam,
que calam os membros,
que calam os tempos,
que calam as frontes,
as minhas,
as do ninguém,
eu despejo ácido e vibrações sonoras.
Não há perícia
que afronte estes mistérios.
As portas abertas deixam
passar apenas um vento vazio,
destituído de prática
e inerte no além corpo.
No meu além corpo em sangue.
Toro psicadélico.

Anulamento.

Entram estas
mulheres no perímetro
do meu fumo.
Mulheres anciãs,
com ventres cheios de
mistérios orgânicos que me
faltam,
que eu deixo para trás,
deixando-me elas para trás
quando se ausentam
na procura de um
outro espaço.
Metalurgia.

La ter gia
fonde de mental ka ess kas
La brume
et donc par le aeniman troissure
Toissence
La brume

Os panfletários
progridem o som
pelas pretuberâncias
que colocam nos
seus actos.
Amam-lhes as frequências.
Pom.
Sombras de mim mesmo.
Porque continuo meteoro fútil,
pobre,
meio animal de consolo,
que nada, mada sada,
nada, nada, vale.
Mas ao mesmo tempo,
vejo estes galos de
lenços na cabeça,
mestres da dança do arrepio,
estes benfazejos
da musicalidade
e da felicidade na terra,
e a deslocação é demasiado grande
para que não exista algo.
Algo por que valha a pena ser eu.

Onomatopeia
que prende os
tempos.
Bem sei que o argumento
por excelência
é o absurdo.
E este absurdo é o meu argumento.

Piano ventríloquo,
que te expandes por estas
paredes que recordam
o esquecimento de umas outras,
que alimentas
os mesmos alentos dos ventos d’além,
e baixas
agora a frequência até
esta se tornar
saltitante
apenas por existir,
és testemunha
do meu trono vazio.
Falo-me com todas as coisas que detesto.
Desço muito baixo para comprovar o
que sinto
sou.

 

– Eu, perante ti, transformo o sonho no seu próprio ocaso inevitável e profundo de turpor, que se escapa para logo se fundir como um escolho da mente, e no entanto será sempre a irrealização a ditar este sonho, esta volúpia que apenas existe na tua cabeça. Nada importa eu saber-me bela ou incandescente; tu não me realizas a potência que em mim sinto, não procrias o meu corpo de sensações irrecusáveis. São apenas velórios mais ou menos especiais, de figuras que colocaste em mim, mas que eu não reflito, que se apoderaram de ti como se fossem minhas, mas em boa verdade não existem. Como se o papel onde escreves as tuas façanhas fosse de fraca qualidade e assim se deteriorasse à mínima agrura atmosférica, ou à falta dessa agrura. Tudo se torna num ponto onde a máxima procura é ensimesmada, sem sentido, ou com um certo sentido que não é o meu, e mesmo que fosse eu o recusaria. Bem vês que a verdade é bem diferente do desejo que a sua procura desencadeia. E se assim não fosse, cá estaríamos nós para que assim se tornasse.
– Muito bem, afasto-me.

 

 

O terrível desespero da saudade

 

 

O terrível desespero da saudade
Tremenda sonora partida do fundo para dentro
Quando todos os mistérios se fundem em sombra
E a morte espreita pelo canto do olho da morte

As súplicas errantes de quem tem um medo maior que as mãos
E faz a penúria tornar-se grande quando faz zumbido crescente
Quando a côr se desprende do tecto
E assinala a turva existência sem meios

Alas em busca de fome e proveito danoso
Funda escarpada que sobes pela nuca acima
E te esgueiras pela mão do condenado fútil
como pérolas
Anátemas de juventude em sangue

Longos beijos te dou
Meu amor de longas carnes
E sons de púrpura em seda milenar
Ventos do fundo bem preciosos
Amálgamas de fetiche cornos no chão

Lambes-me a mão que me ergue o despudor
E tramas de conas enfileiradas por cima dos sentidos vazios em ti

Além do fim será sempre uma súplica
Ter o deus na fuça sempre a tremer perante o teu escalpe sagrado
O terrível desespero da continuação
Permanece em mim
Pelo tempo fora
Como se tratasse de um sino de fraude possuído
Entidade arbitrária
A alma pode ser um refugo mas continuará pálida em paralelo
Vezes em demasia pelo tempo fora
Um contemplar de outras razões que não a usam
Plurais de formas pouco definidas
Em solavancos de sonos entrecortados pelo medo
E tudo isto a sonhar alto enquanto a queda é eminente
Vamos morder o sono da mente
E tornear os dedos que se fecham
Fumar um estrondo metafísico porque meta incansável
Olhos de penumbra meio céleres e vagos
Deitados pelas encostas de declive suave
E duradouro
Dannar é um impossível
Tal como os números sem razão aparente
Dedos de fungos cheios mas solenes
Semeados em terrenos tão férteis como obscuros
Prevejo a minha queda como um farol
Prevejo a deusa dançante na minha mão que não é um bem
Apenas propriedade
Alto vazio
A escolha poderá muito bem um dia tornar-se impossível
Quando a irrealidade tombar e o meu nariz
Aquecer-se de encontro à penugem do teu sovaco

Admiravelmente de encontro a ti

As vezes que escapam ao sentir
A desabrochar no jardim de pedras
Aquelas que nem eu nem tu lá pôs
E fundos de moda fantasmas na luz

Sempre um desejo que se quer único na vertente do verdadeiro apocalipse
Que torneou o odor dos fins de tarde amenos
Chupados por deusas inconscientes e belas
Perfuradas por mancebos a contraluz

Lama perante a vergonha de ti
E turba de fome a cair aos pedaços
Inconsequentes os teus passos
Lume fome inalterado
As raivas são grandes se forem do próprio dia
Amar-te-ei então em dias alternados

Os terrenos da alma são breves passagens pelo cosmo,
pedaços de inércia tão original como o pecado

Eser de mercúrio inflamado
Sono perpétuo te extingo a afinidade com o diabo
A solo de três quartos de nota
Breve majestade de erro
Súplica em fúria
Masturbus envolve-se na miséria
Pensa três vezes na morte
Um rodopio na presença de Deus
Castra-se no tempo e luta em demasia

Amas-me o tempo todo feito de caralho

Calabouço suspenso no âmago do teu terror
Longo e ameno franzir de olhos
Turvos como a noite de Inverno
Fria no passeio de pedras pequenas
Lagos afectos dentro de mim e apenas isso

Todo o tempo foi talvez um tempo de misericórdia
Miséria

A des-honra dos sentidos
Dá-se no campo da metamorfose

 

 

 

Passadeira

 

 

 

Anatomia do golpe pérfido.
Na loucura que assombra o sentir simples,
e o transtorna na extrema placidez de um gemer de troncos,
mastodontes febris como a minha loucura,
ou como a minha amante só.
Nesta esquina de rua civilizada,
onde o pó não tem descanso,
onde as sofreguidões não têm descanso,
e rondam os passos como se fossem areia.
Presos.
Sentado à mesa que escolhi,
ou que me escolheu pois esteve sempre aqui à minha espera,
imóvel na sua plenitude diária,
verde na sua estética diária,
imutável,
testemunha da minha própria mobilidade de cobra.
Os corpos que se venderam passam por mim.
Aqueles que como eu também um dia
aparentaram essa mesma mobilidade,
e no entanto agora deixam-se estáticos,
mas em movimento,
nas suas viaturas blindadas.
O tempo transforma os corpos.
Deixará incólume o espírito.
Um sonho uma vez,
um sempre sonho.
Uma aparência uma vez,
um sempre nada.
São apenas os corpos a desejarem
outras metafísicas,
outras podridões de um outro quilate,
e a mente a ditar o seu rol de intrigas.
As suas clarabóias de anestesia,
inercial,
porque sempre a mesma.
A velhice será a única comprovação
daquilo que somos neste preciso momento.
As coisas serão as mesmas,
instalando-se apenas a preguiça
de esconder o que agora desejariam envergonhadamente que fossem.
E afinal de contas,
os corpos apenas passam honestos.

Nas têmporas
Do dia negro eu encontro repouso,
suicida mental de um
turpor maquiavélico,
sopro de penumbra em torno
da auréola mortal
que assombra,
fundo que pressente
o terror pelas mãos
de prece oculta.
Libertinagem.

Neste café de esquina
que assombra pelo desconhecido,
e é sombra que me
anula pela intensidade que se
esvazia,
esta mesmo que de mim
brota na parafernália.

Os homens que entram
com os líquidos oblíquos
nos rolamentos do seu andar,
e olham a sua refeição de Rei
antagónico e cru.
Cobradores de almas vazias,
com lixo a compor a
imagem da flor que
não tem dono,
que não é deles,
que não é minha.
Eles vão e voltam outros.

Planeamento.
Falha inacabada.
O que sei são apenas dúvidas,
alimentadas pelo embalo constante
das fisioterapias internas
que a mim próprio imponho.
Como cachimbadas de ópio semi-controladas
por heroína hedionda.
Um quanto nervo para
a progressão da pirueta,
uma quanta ferroada
para a travagem que se pretende súbita.
Um alento,
um desalento.
Um débil sim,
um forte não.
Ainda resta fazer a soma
destes processos todos.
Até quando?

Os transeuntes
atravessam-se plenamente,
vorazes,
mas cheios da calma
que o conhecer o seu presente
lhes dá.
O sarampo
cresce como se fosse pó inacabado
dos tempos tocados alados,
feridos nas têmporas da morte,
aquela que me é como amante hiper-perfeita,
a que me morreu.

 

 

 

Poema destravado

 

 

 

Não vou escrever para ti.

 

Baixam-se as asas
pelas rochas leves de água
em espuma quebrada
aos solavancos.
Tenho visões de
mares em rochas quebrados
e espuma em saltos
aproximando-se através do vidro.
Vejo as rochas e o
mar que surge em catarata
e a água se fende
na espuma que
salta.
Mas já as vi há tanto tempo
que já nem sequer sei como eram.
Já as vi há tento tempo
que se tornaram incómodas.
Porque o que transmito
não são recordações.
Este anemómetro tolo regula
o fundir,
o estranho metafísico,
porque sangue em sangue se forma,
é animal que geme
e vocifera o além possível
como um coxo,
e pumba,
cá treme o punho porque a mente se torna idiota.

Vou-me deixar
cair na lama,
e olhem que não sabem o que eu
sinto por ela!,
vou-me libertar no tijolo que em
mim mente,
pelas horas mortiças
que me encandeiam a mente
no ponto alto da minha fúria tão pura.
Anemómetro adorado,
fúria de Alberin;
o turno da noite
que se esconde na
sombra,
que me lembra a desmembração
tipo série
em paralelo
com dois solavancos de preta.
Um olho
pelo outro sempre ficaria bem,
e apercebemo-nos sempre anemómetro
desta dúbia sensação de tudo
o que se diz ter a ver contigo
e do que falo é do
meu olho e o da preta.
Plêiade dos povos,
a mestiça ronda-me os panos com o
seu braço louco de tom
e punha-me nela se fosse
tempo de sentir.
Ela é a tal da cor que
não existe,
a tal da cor que eu fabrico com
peles de várias mulheres
das quais retirei a luz
até ao negro.
Disforme pelos
cantos das paredes,
meio curva para
acompanhar o
som que enche os cantos
destas paredes,
com estas paredes
a serem paredes
e eu a lembrar-me delas porque
quero ser poeta,
e a merda é outra.
Não vou nada,
não tenho nada,
e as coisas não são assim
ou assado,
não são de uma maneira de puta,
nem ohs nem uis pois
a merda
é outra.
É outra!
Só não sei o que é.
Nem sei se é isto,
mas pôr o tempo
no papel é fodido.
Palavras para quê.

 

Não escrevi para ti.

 

 

 

Lamaa

 

 

Alama é sedooosa
Trem’o tempo numa onda
no labbirinto que lh’ aclara
a fronte diabo de Deusa.
As trantas divinas vão-lhe saciar
a fronte sedooosa de musa
tua mulher divinal medusa
tua virginal
mulher em fúria
campãnoola suave lamúria.
Nan tão pouco
surge belo o horror do só
pelo só estado de amourir
o lamento que turva com os oiros
frios lentos solenes nos dentes
que me pisam o corpo
na alma dura tão pura
na alma dura tão sua.
Alama é sedooosa
Trem’o tempo numa onda
no labbirinto que lh’ aclara
a fronte pura de Deusa.

 

XER

 

 

O término da questão social perante o tempo

 

 

Algum tempo é constante: a sua passagem mede-se por sub-intervalos iguais.

A aparência inflamava-lhe o corpo.
-Porquê que há tanto tempo não fodemos!
Ela, de olhos fechados, braço sobre a barriga, com as mãos a afagar a sua cintura.
-Não sei. Só que… apetece-me mas tenho muito sono. Tenho andado com muito sono.
Ele ouviu e prezou o seu tempo, e a loucura que o purificava ali, naquele momento.
-Queres tu dizer que não temos fodido porque tens sono – ergueu o punho bem alto enquanto desprezou acima de tudo o seu querer.
-Oh! Eu sei lá, não tenho uma razão para estar assim, pode-se estar e pronto, e eu, meu deus, quero um sonho mas não o tenho, enquanto tu, foste a bandeira majestosa que se enxovalhou e agora não interrompe sequer o meu ressonar. Ali, bem longe, estás tu, mancha de betume, greta de porta que não se fecha, torneira em forma de cigarro que tanto oscila como cai, e apenas tu estás lá. Mais ninguém. Querido, não há motivos para eu estar assim. Além disso, há os comprimidos.

Barrei-me todo no sucesso, enfim, completo, da minha futilidade.
Liquidei-me sem antes me acender até ao brilho da brasa. Penetrei-me todo.
No coiro da vida. Velha teia que afunda a beleza.
Um traço oblíquo permanecerá para todo o sempre em mim,
marca da epopeia heróica de um homem pelos mares de Tchau Tchin.

Ela agora dorme. Ele, sonha acordado. Um dia será um belo esquecimento.

 

 

Masturbus

Cântico Semi-Rami

 

 

Querida Masturbação
do género humano amada pelo tempo e tempo
Que manual te expandes sem outro auxílio que as belas mãos
e assim te escondes na fricção das glandes
com os teus instrumentos no âmago da uretra
Mecânica é tua força quando exercida no buraco anal
de imensos objectos provocadores da eterna tumefacção
É a tua psicose a engrandecer-te
O doce roçar levíssimo roçar pelos genitais
na Piça que te é adorada
Nos tomates de tusa
Foste tu que te apoderaste de mim
e transbordaste a sólida e numérica fama
do jugo Homem enfim grande
e violenta é a tua face de fome
Anciã a tua génese de tromba larga pelo Homem fora
Das trombas humanas padecida
que é longo o caminho da tua escada espiral acima
até ao toque que apenas pressentes
Galdéria adorada
Os dedos são tua armadilha e o odor do teu ocaso
entranha-se-me nas vísceras dos membros
quando o choro é apenas multidão de espasmos
Fetiche da multidão
macerada pela porcaria dos dedos
lixo
mecanicismo psicológico de sexualidade
Tu que fazes erecções experimentais de prolongada inércia
O Homem enfim cadela anseia e foge
coito do pré fabricado
Com um coice desbravas a multidão de sexos e sonos
de seios fartos e coloridos até ao ínfimo grão de cor
que tem uma determinada frequência espectral
e coloniza o afagamento
Se fosses minha vibrava-te um golpe no cérebro
A válvula na uretra
Ponta afiada na glande
Água a jorros por ti adentro ó Piça desmezurada e podre
Ardo-te o pénis e o membro agora outro vai e vem
e sugas-me o ser com esse fluido quente que por mim entra
E ponta afiada no corte
Corte na piça e dela sai o Amor
Louco como um corte
Masturbus
és feito de perícia
Inicias o canto enquanto as outras dormem
Enfias-te pelos pedestais e congeminas maravilhas
nas enfermarias do desejo
Metes-me no cú esse halo eléctrico e transmites
a voltagem exacta do meu desmembramento
Cú de energia ansiã como eu

 

 

 

 

Morteiro

 

 

 

Hipocondríacos de todo o mundo,
acaso uma punheta vos serve,
isto é,
acaso uma punheta vos chega?
Aqui está o homem só,
benevolente com a sua própria miséria,
ou mulher,
o que brota o além como se
fosse hipnotismo,
do barato.
Metrelhadora.
Na sua fronte soturna
brota o anfíbio supremo,
o que maravilha o adeus,
o só anfíbio solar.

 

 

 

 

La Beria

 

 

 

Meu amor de longas vestes.
Encaixo-te os dentes com alicates
marchetados a diamantes.

 

 

 

 

 

 





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