Zero Zero & Necrocyber
Zero Zero & Necrocyber
Meto as mãos nos bolsos, sem fundo, como costume, ou com o fundo premeditado do meu elementar vazio, aquele que me perturba e dilacera como um boi. Assassinar o quotidiano como fazer amor ao Sol, eis o que me resta, neste tempo de nuvens e frio negro. Dou passos colados à minha mente, e muitos mais darei enquanto não me apresentar vivo perante mim, ou sem mim, que é sempre o melhor, e assim em contratempos de pernas eu me viciarei de tudo, e escarnecerei de tudo, porque tudo é nojo, e sombras, e nojo, e merda. Ou nem tanto, talvez o contratempo esteja no meu próprio andar como a inegável excelência do contratempo-Mor, o afundado nos bolsos. Talvez apenas seja eu o elemento único, logo aquele que é parasita. Mas o parasita do Monstro é parasita? Não será antes verme?!… E aqui o verme além-Monstro entedia-se de morte, e pensa duas vezes na morte, e a morte é apenas o cúmulo da merda, o cúmulo da merda, o cúmulo da merda!
Os passos continuam precisos pela rua acima. O frio bate-me na cara como punhais. (Já que se aspira sangue, tê-lo-ão…) Os punhais não estão bem no frio, mas erguem-se das miseráveis pessoas, os outros… O frio que é frio torna-se áspero no meio das miseráveis pessoas. O frio que é frio volve-se facas no meio das miseráveis pessoas. Cadáveres abertos, escancarados nas mandíbulas tóxicas, infernais, de olhos macilentos e cortados como um piolho mostruário do nojo, da perfídia, progridem como elementos-caralho-estetizados do fundo da latrina Soviética, do Porco além-Porco, do Porco aquém-Porco!
Se as torturas fossem bem-vindas haveria urros de Porco-Todo a dizer: “Basta! Basta! Basta! Não quero mais…” Mas não…. Haja o que haja, o facto é que o Porco-Todo anda a guinchar: “Mais!! Quero mais!!” Mas que merda é essa que o Porco-Todo tanto quer? Mas que merda é essa que o Porcalhão-Todo tanto necessita para se tornar ainda mais Porco-Mor? Em coro (imitem as crianças): “Mil enrabadelas com tições em brasa…” É isso que alimenta o Porco-Caralho… A fornalha-enrabadela que tanto arde nas vísceras entupidas com os cadáveres dos outros, dos assimilados, do futuro vómito.
Entro num café. Tão limpo, tão nojento, tão estupidamente (caralhos vos fodam) Burguês. E vomito. Já agora saibam que vos vomito a vós. Porque se querem um Porco, aqui está um verdadeiro “Caralho que vos fôda!”
“Um antro de sonho.”
Juca Pimentel