PÁRIAS, por Happuol Osogaarf
UMA FILOSOFIA
“Mas,…
Várias…
Filosofia…
Hoje ou amanhã?
Talvez em tempo nenhum…
Talvez nunca…
Talvez sempre…
Talvez, Talvez, Talvez…
Talvez…
Talvez um dia as flores riam no Inverno;
“Talvez” as árvores frutiferem no Outono,
e a neve caia no Verão,
e o Sol abrase no Natal.
Que bonito!
Que benção dos homens!
Que beleza!,
e que eu talvez, talvez…
tal vez será uma efeméride…
Talvez o Mundo vá ao futebol,
e venha ter comigo
com o vento a esfriar-me as orelhas,
numa rua escura de nevoeiro,
e se sinta feliz a quatro dimensões…
Dimensiona em mim o terno pavor,
e acalma os animais do tempo;…
Força meu dia, afora os momentos,…
Força meu vento…”
Um bafo de heresia lançado ao vento,
boiando no fofo colchão atmosférico,
fala às estradas e aos rios.
Discute com rudes pedregulhos,
e comunga todos os Domingos.
-Sê bom! – e a Natureza ordena.
E não há faca que corte
sem ser afiada depois da matança;
Se o bafo protesta logo se amansa.
Sinto-me ficar louco
Sinto-me loucamente ter nascido louco…
É uma loucura!
E a única loucura que possuo,
é amar-te loucamente…
…até que a loucura ponha fim à minha
loucura permanente…
Há uma morte em cada pensador
e cada pensador é uma morgue.
A Arte é diversificada
e é bem vinda à maneira que o Sol brilha,
e o poeta sofre.
O tempo passa
e a vida foge,
os planos morrem
e os dias concretizam-se.
A apreciação depende inúmeras vezes
e abana a cada sopro,
pende do alto das covas
e cai nas mais fofas nuvens.
Ah, felicidade inexorável!
Não há alegria que alcance a tristeza,
e não há loucura que ultrapasse o sofrimento…
Não há reticências,
há um adiamento que corre para lá das estrelas
e se encolhe na estrada do Cemitério.
Não há música que acelere o relógio
e não há relógio que não faça música.
Cada um à sua maneira…
Há maneiras para todos
e não há tudo para ninguém.
Todos têm infinitos
e Ninguém tem nada.
O Ser é uma figura,
cada figura é um caderno,
e cada acção um romance.
Um romance ninguém o lê…
Todos lêem uma fantasia
e a fantasia não é uma banalidade.
Fantasiar é fazer circo,
cada circo são vidas,
e cada vida é um circo.
Beber vinho é natural,
natural é beber água,
água é a vida,
e a vida é um banho de banheira.
Ah, pois é!
Fazer puzzles é divertido,
jogar é um risco,
um risco é uma recta,
uma recta corre para o infinito
e nunca volta para trás.
Vai de encontro aos astros
e nada se desfaz,
tudo permanece intacto
e nada se conserva.
E o poeta sofre!
Cada corrida é uma parada,
e a chuva cai.
E a única reticência
é pensar nas gotas de água
que se unem como uma sociedade tornando-se num oceano gelado de brasa feito!
E a estrada roda,
e os carros permanecem a olhar.
As pessoas caminham embriagadas,
e a estrada enlouquece
e as pessoas sentem
e fingem não dar conta de nada.
E os poetas sofrem!
E se assim não for,
que diferença faz?
Três mais três são dois,
e seis só é um,
e todos são um milhão,
e mais serão muitos milhões,
e todos juntos só são um,
e um é um,
e será sempre um,
e um são todos.
E o homem não entende,
e o homem vive,
e o poeta sofre!
E eu não entendo!
E depois?
E depois não fica nada,
e fica tudo igual,
e são tantas coisas,
e não é nada,
e não é tudo.
E sabe lá quem quanto é?
E sabe lá quem o que é?
E sabe lá quem sabe o que sabe?
E todos sabem nada
e nada sabe tudo…
tudo é uma ilusão,
uma ilusão é ficar parado,
ficar parado é concentração.
então concentrado,
qual a satisfação?
Parar um bocado,
ficar aterrado,
livre do Mundo.
Grande ilusão…
E a maior ilusão é não parar!
Há sempre uma paragem,
nem sempre um recomeço.
Só recomeça quem alguma vez começou!
E quem começou?
Quem nunca foi nada.
Todos fomos alguma coisa,
e quem de nós já começou?
Quem de nós quer começar?
Que somos? Que seremos? ou… Que fomos?
Que sabemos?
Que pensamos?
Que dizemos?
Nem tudo, nem nada, nem alguma coisa…
Todos parámos,
e não cumprimos o ser,
e já estamos fartos de o ser…
Não há regras para ninguém,
e ninguém é uma regra.
E Ninguém é uma regra!
E alguém será uma regra?
E Ninguém será uma regra?
Porventura será alguém…
E o Sol brilha,
e as nuvens passam,
e o Céu é azul e cinzento e encoberto,
e a água molha,
e o calor sente-se,
e o frio arrepia,
e o barulho sente-se,
e o silêncio ouve-se,
e a terra move-se,
e a distância encurta-se e alonga-se,
e no Mundo há tantas coisas,
e às vezes não há nada…
E será tudo ilusão minha?
Será tudo ilusão minha?
Será tudo ilusão dos outros também?
Será tudo ilusão nossa?
E que tenho eu a ver com os outros? E que somos… todos separados? E todos juntos? E que amo eu além do paraíso?
Quando lá estou não penso…
E os poetas sofrem! E amam! E criticam! E amam!