VISÕES, por Zombie
SOU…
Forte como um touro raivoso me transforma…
Garras de ave de rapina me dá…
Loucura e precisão de ourives me fornece…
Os meus olhos
perscrutam ávidamente a paisagem nocturna,
que se desenrola por detrás das sombras fugidias
do comboio atrasado…
Os meus olhos
olham por entre os vidros das janelas
imaginam um enorme espelho – opaco
a figura esbelta da minha presença…
O beijo de uma mulher –
segurança… presença…
superioridade não provocada…
As garras actuam… provocando
Da minha expressão o espelho arranca a expressão
assassina de um cão que ladra,
mas que não morde
(Sim! Os cães não pretendem morder, apenas assustar)
Como eu…
Belo. Narciso superior.
Aquele que gosta
de observar,
de comandar as tropas,
os soldados para os infindáveis assaltos…
Traidor de todos.
Incendiário de paixões já não mais contidas.
Traidor de mim próprio.
Feliz – ao desconcertar quem não sabe
a razão de não querer ser considerado amigo
Sou
livre… de todos
Estou
livre… de tudo
Não me importunam mais os espíritos malignos
que me povoam as trombas
A ESLAVA COMPAIXÃO
Acordar longínquo e tardio do ser
Passar intermináveis tardes na pastelaria
Sonhar esmaecidamente algo que não existe,
sonhar num frémito a realidade
Esquecer enternecidamente compromissos inadiáveis
Esperar alguém que sabemos que não virá,
mas que não queremos que chegue
A permanência de nós em nós próprios
A pureza de estar escrevendo
sobre um livro insustentável, não o abrir
por humildade e um pouco de preguiça
A sensação de sermos realmente nós,
de termos direito a abusar da nossa paciência
Ah!, contemplar as pessoas que me observam
como se fosse um esquizofrénico
A vida, a eterna metáfora de quem sabe
que algo sempre acontece quando o menos
desejamos,…
quando o menos
esperamos,… (e SURPRESOS)
Chove neste momento, estou preso
Que bom!, a melancolia radiosa.
CAPTOMENTE 2 (PARTE I)
Convoluindo a génese humana
com o doce sabor do som de uma guitarra
Reparamos na existência
de uma ténue esperança
de que algo mudará.
Mas, no entanto
a imperceptível volúpia
nos sussurra que nos sentimos sós.
Este é talvez o maior dilema da Existência.
TRÊS EM UM
Uma sensação
uma cadeira um poster uma cama um quadro
Frio como a noite ele é
Uma vaguear um delírio
um tecto uma caneta um papel
Terno como os lençóis ele gostaria de ser
Um objecto perdido no meio da multidão
uma negação uma escrita uma divagação
Só como as sombras ele se sente
Uma sombra uma luz uma melodia
um objecto um tema um lema uma conversa
Triste como a noite ele está
Um esvoaçar de cigarros
uma vontade um adormecer um poema
(Fraco como o seu corpo ele permanece)
Uma sensação de alívio… de triste beleza
SCUASCRAAMO
Senta-te em cima de um penhasco
e pensa
Convolui-te com a tua mente
Ultrapassa a fronteira
Atira-te
e recorda
Sente os teus conhecidos
Chorando por ti rezando pela tua alma
Recorda o teu passado
pensa nas boas e más acções
Admira os teus momentos de felicidade
e chora
A sorte não te premiou como devia
Mas nunca te esqueças
Os mortos também dançam