Osmose tratus
2004 – Grupo Mão Morta – Yahoo!
A partir do momento em que o desfazamento entre o indivíduo comum e a tecnologia seja tão grande que não há outra hipótese senão a de haver intermediários pagos, como quase é agora, está tudo fodido…
E o facto é que a industria cultural é uma industria. Há regras que não há volta a dar, a não ser se que se queira deitar abaixo o castelo de cartas.
Há dois argumentos tipo contra o copyright. O dos artistas, e o do público. O dos artistas, passa muitas vezes, pela eliminação pura e simples do empresário; que redunda sempre numa maior perspectiva de renda para o próprio artista, pois passa a ser o Patrão. Isto em relação ao que me parece o « Copyleft ». No entanto, não me parece provado que esses artistas sejam bons patrões. Mesmo para eles. Ou seja, um artista patrão irá para o desemprego normalmente…
De facto, é preciso ir bem fundo para se justificar que aquilo que uma pesoa faz deixa de ser propriedade sua a partir do momento em que a mostra. Há que partir do pressuposto que ninguém pediu… (Estou a brincar, …) Mas o facto é que qualquer criação tem existência assegurada e independente do que quer que seja o criador. E não há qualquer intelectualidade num disco. Apenas matéria sonora. Os artistas ou os empresários não podem andar a vender aquilo que ninguém compra pois não está no produto. Isso portanto não existe. Propriedade intelectual sobre um disco, ou sobre um livro, etc. Pois não há intelectualidade do autor no produto. Ela aconteceu no autor e lá ficou. O que há é a manifestação de um trabalho, intelectual também, sim senhor, como dar a missa também é, mas que é essencialmente de produção. É um disco. E esse disco tem existência assegurada e independente do que quer que seja o criador. É um facto da matéria. A única maneira de contornar isso é destrui-la, ou fechá-la num local inalcançável. Ou então meter-lhe grilhões como acontece cada vez mais (anti-copy).
Quem quizer pode hoje em dia publicar aquilo que quizer sem se preocupar com os direitos de autor se pretende que tudo seja não comercial. Ninguém lhe rouba a obra e tal, e começa a fazer negócio com a coisa. A referência de autoria está portanto assegurada, pela posse do material original, ou documentação, como data de ficheiros, etc. Basta afirmar que é não comercial, num local qualquer. O Creative Commons é aceite juridicamente, pois trata-se de uma derivação. Se o artista pretende fazer negócio, então é mesmo aconselhável ir procurar um Empresário e que se enrabem os dois.
Há muita confusão na « cena ». Há regras da indústria e do capital que não podem ser quebradas se se andar nesse sistema. É absolutamente impossível. Um meio termo redunda no não crescimento do sistema, que só poderá assim atrofiar. Os artistas que lutam pelo pão já auguram bem essa impossibilidade que representa quebrar o sistema, sem se sair dele… Isto é, não poderão pensar os artistas que chegam ao público a que chegam hoje, que isso poderá se manter a partir do momento em que são eles, pelos próprios meios, a transmitir a obra. Isso qualquer artista saberá. Os artistas pretenderão mudar o quê a partir do momento em que obtenham o controlo editorial da sua obra? Pensam que não vão ter que gastar o mesmo dinheiro em publicidade resultando daí compromissos entre lucros e gastos? Pensam mesmo que o seu público actual é permitido pelas qualidades da obra? Não dá para saber… porque nunca foi assim. A teoria que uma obra não chega mais às pessoas do que podia é vaga. Tudo podia chegar muito mais a qualquer pessoa.
Portanto, heverá uma cena estranha, talvez em Portugal, que é os artistas aspirarem a detentores dos meios de produção. É de bom tom o artista não se misturar em política. A não ser que tenha consciência social, pois em política tratamos a sociedade…
E nesse sentido a teoria e a prática apontam para a eliminação do bem de transação. Não de todos, claro, mas da maior parte em que se fundam os mercados das necessidades espirituais. Passando a existir bens não produzidos para a transação, mas apenas transmissão. A adequação da nova industria e essa nova produção dependerá desta, e da forma como todas as outras necessidades são cumpridas. Portanto não dá para falar. Mas a ideia é a obra « publicada » começar logo á partida por ser uma transmissão, e não um bem de transação, como é considerada hoje em dia por toda a gente que recorre a uma label para publicar um disco.
Bórgia Ginz