Crónicas dos olhares por cima dos carros
Crónicas dos olhares das pessoas por cima dos carros
I
Na montanha do pó cresce um torso feminino suspenso no ar por um cordel que se enfia nas cavidades pouco profundas visíveis no chão. É uma imagem algo desfocada de um Imperador antigo que foi hermafrodita enquanto se sentava no alto de um pedestal marmóreo, aquele que suportou Vénus antes desta se deslocar e esborrachar a cabeça da criança que brincava suportando na mão esquerda um longo facho de prata cinzelado pelo artífice da corte. À sua volta movimentam-se as carpideiras nos seus longos panos negros, que, com as lágrimas caindo num recipiente esculpido no mais puro diamante, juntam o precioso líquido acre e corado com o qual mais tarde saciarão a sede do seu mestre, no meio dos grunhidos e gestos de imenso prazer deste. No meio do fumo surge uma mulher semi-oxigenada, com os braços cobertos por tatuagens negras e exóticas, levada em ombros por seis negros de músculos brilhantes que seguem nus e de pichas entesoadas.
II
-Oh, vem! Anda para cima de mim! Penetra-me bem fundo! Eu amo-te tanto. Tu nem sabes como eu te amo tanto, meu querido. Desde o primeiro dia, lembras-te? Estavas tu parado no apeadeiro do autocarro. Sorrias para uma criança que dançava à tua frente. E eu, quis logo agarrar esse teu sorriso com os dentes. Eras tão cândido! Oh! Vem para cá! Fura-me! Anda! Tu olhaste para mim e continuaste a sorrir, como se a partir desse momento também eu fosse criança, uma criança bela e despreocupada. Eu logo ali me despedi do mundo para me devotar a ti, meu amor… E deste-me a mão em silêncio e levaste-me a passear rua abaixo. Como eu gostei de mim e do mundo naquela hora! Anda! Enfia-mo todo! É bom! O nosso namoro foi tão bom. Ainda recordo a tua mãe que ainda era viva e quando tu me apresentaste a ela a ela, como ela estava feliz; não parava quieta, sempre a perguntar se queria isto ou se queria aquilo. E eu amei-te ainda mais por ver que eras amado pela tua mãe. E éramos os dois tão lindos. Espera aí! Deixa-me levantar a perna. Agora! Mais rápido! Espeta! Oh, meu amor. E os dois tão inocentes. Fechaste os olhos quando te mostrei pela primeira vez os meus seios pontiagudos, e coraste também. Nem queria acreditar que ainda havia rapazes como tu, tão belos, tão sensíveis e amorosos. Estes tempos agora são tão esquisitos. Oh, querido! Rápido! Mais rápido! Rebenta-me! Oh, meu amor…
produções Ganza:1999