Diferente
-Eu sou diferente de todos os homens que poderás encontrar.
-Todos os homens são diferentes…
-Mas eu sou diferente até naquilo que os outros são iguais.
-Podias concretizar?
-Tu, por exemplo. Amo-te, julgo sabê-lo. E assim, nunca te conseguirei deixar. Faltar-me-ão sempre as forças para dar o último passo.
-Eu sei. É por isso que te acho um fraco.
Ela sabia! Logo aquilo que mais me esforçava por ocultar. E era esse o motivo porque me achava um fraco. Detestei-me como nunca naquele preciso momento. Ela sabia medir as palavras, calmamente, deixando-as fermentar até atingir a máxima acidez. Eu, pelo contrário, face a tanta calma aparente, enervava-me. Afinal, queria-lhe dizer coisas que ela ainda não soubesse. O meu castelo de cartas desmoronava-se por completo. Ela tinha acertado em cheio na ferida, e as palavras entalavam-se-me agora no céu da boca. No amor, quando às sensações sucedem as palavras, é muito perigoso dar a conhecer a jogada antecipadamente, e eu sentia já que estava condenado.
-Porquê que me achas um fraco?
Ela estava extremamente calma, e facilmente respondeu à pergunta óbvia.
-Porque sim.
-Então e onde vês tu a força, ou a falta dela, nas pessoas? É pela maneira de andar, e pela maneira de dizer bom dia?
-Não é por nada disso, e é por isso tudo ao mesmo tempo. Vê-se, simplesmente. Mas deixa lá que eu também sou fraca, até talvez mais do que tu. Por isso preciso de alguém que seja forte.
Agora eu sabia. Tudo era devido ao facto de eu ser fraco. Afinal era esse o meu pecado. Não era o ser baixo, ou o ter os dentes amarelos, não, era algo de geral, próprio de mim: ser fraco.
Bórgia Ginz, in O Anormal