Manifesto caralhótico
Manifesto caralhótico
Camaradas, a falência do intelecto enquanto entidade abstracta e própria de cada um, a falência da acção como processo de construção de algo que caracteriza a qualidade de um ser, a falência do processo homem enquanto detentor da máxima inteligência, logo da máxima verdade, esta falência enorme, é a vossa. Sim, porque de facto neste preciso momento riem-se do que leram ou olham para o outro.
Devo esclarecer que escrevo neste momento em folhas de guardanapo e com uma caneta que dificilmente consegui que alguém do café me emprestasse. Há muito que me apercebi que as teorias nada dizem, e o que de facto interessa é o como. Aqui não há intelectualismos. Dou-lhes o buraco mais fundo.
Voltando ao tema que decerto já esqueceram porque é certo que o que vos interessa é a intriga: a falência do animal homem. O animal homem tende a abandonar a sua condição de homem para se volver aranha hiperbárica. Podem tentar procurar perceber o que quero dizer com isto, eu próprio o tentei, mas cheguei à conclusão de que entrar na essência do homem actual é entrar no domínio do absurdo. Camaradas, como se parecem com as meninas larocas que passam tanto tempo em frente ao espelho e assim se estupidificam! Não há tempo para tudo. E o homem existe em plena consciência disso, tanto que faz eternamente escolhas, apesar disso se ter esquecido. Essas escolhas dão-se num perímetro em que prima a ausência de qualquer sentido de abstracção e cuja orientação é iminentemente sexual. Isto é, o factor que determina a essência do contacto entre os indivíduos e a sua relação com o real, é totalmente determinado pela característica animal que garante a sobrevivência da espécie. Volto a repetir: SEXO. Quero que toda a gente sinta o fodilhão que é. Mulher incluida, óbviamente. Claro que isso advém do sexo ser ainda um dos mais solicitados elementos de troca entre indivíduos, pelo menos o mais excitante. O própio sexo tende a ser utilizado como arma de arremesso cultural pela estratosfera do poder que permite assim, por enquanto, laivos de unicicidade ao indivíduo, mas cujo tentáculo sedoso determina a forma como o próprio sexo é realizado. Irá cada vez mais foder-se à Bosq’d’Azevinho. Acreditem, do mal o menos, é bem mais interessante foder à Godard.
A reconstrução do homem, porque trata-se de facto de reconstruir sobre o que já foi construído, torna-se urgente na zona do sonho, e é bem mais complexa do que um seu aspecto sexual. Será um tema para muitas palavras, e ainda mais acções, para mais tarde. O homem-todo é que importa aqui.
definição de homem
comer
sonhar
ir
respirar
amar
sentimento
palavra
elemento
foder
riso
beleza
cabelos
definição de homem
comer
sonhar
ir
respirar
amar
sentimento
palavra
elemento
foder
riso
beleza
cabelos
O Homem tende a acompanhar a noção de realidade, sempre volátil porque dependente do conhecimento, e por ele transformada, porque esta parece de certa forma proporcionar-lhe uma qualquer paz interior, aparentemente condição necessária à preservação da espécie. Trata-se, no fundo, da eterna procura da eliminação do medo através da sua simples eliminação.
Assim posto, será também eterna a destruição do mito, apesar de em boa verdade apenas se verificar uma alteração da sua condimentação. Podemos comparar um qualquer filme de Hollywood e a sua realização na sociedade portuguesa actual, à genese-fornicação-génese entre o mito do deus do vinho e o agricultor romano.
A destruição do mito surge precisamente em função de uma diminuição real do conhecimento, pela extrema pressurização da noção em detrimento do conceito. (Conceito no sentido de significante). Porque o mito nunca acontece connosco. Falando-se não em destruição, mas sim alteração do conhecimento, não evolução, a qualidade do mito parece depender da qualidade do conhecimento.
A criação humana, em especial a de contornos artísticos, cinema, televisão, música, teatro, literatura, pintura, tal como a sua assumpção no seio do intelecto, é unívocamente determinada pela qualidade do mito.
Juca Pimentel