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Para um golpe de estado

Bórgia Ginz

Para um golpe de estado

 

Temos o sonho entalado no meio dos nossos dentes amarelecidos pelo tempo. Temos toda a nossa intelectualidade metafísica dispersada na imensa miserabilidade do nosso corpo, e com isso sofremos todas as atrocidades que nos fazem arredar passo de toda a “outra” humanidade.
O exagero das formas passa por ser hoje em dia uma verdadeira instituição comportamental, toda de beleza feita nas faces frescas dos jovens. Mas, até quando a juventude?, sendo que ela não é um posto vitalício? Não há explicação para a “criancice”. A não ser que a palavra mais correcta seja “sacanice”. O estado jovem é antes de mais uma palavra, um sussurro de individualidade, esquecidas que estão para sempre noções como o colectivo, a nação, o patriotismo, a camaradagem, acompanhadas pela crescente debilitação de teorias políticas como o comunismo. Pois que a própria política é olhada de soslaio e alvo da troça generalizada. (As pessoas que poderiam dar algum contributo futuro à política, são os que agora mesmo mais troça fazem da mesma. Só os oportunistas e os vagabundos mentais de agora serão os políticos do futuro. Prevejo uma vaga cada vez maior de corrupção e branqueamento políticos.) Porque a paixão, para a juventude, é uma palavra que tem a ver com mulheres, não vendo os “jovens” de agora nenhuma outra asserção para esta tão bela palavra. Paixão…

O cérebro, ao contrário do que dizem por aí, já se vai tornando pequeno para tanto processamento de informação. É óbvio que se revelam já por todo o lado certos    tipos   de    dislexias  próprias de fenómenos de impreparação mental, e até física,  em  relação   a certas realidades mais “modernas”. E cada vez mais as drogas têm uma componente psíquica, inerente ao subconsciente, a raiar o mortal, o inconcebível físicamente. “A droga que mata somos nós.” (Juca Pimentel) Encontro-me muito céptico em relação a qualquer teoria que aponte para um radical desenvolvimento psíquico/mental do ser humano, a exemplo do que se deu desde os nossos antepassados queridíssimos, os primatas. Não concebo que o cérebro humano tenha bases para um crescimento intelectual grandioso. Porque o homem, e aqui volto aos jovens, não têm motivações exteriores, no mundo circundante que consideram a sua realidade, motivações motoras que necessitem de um desenvolvimento em grau elevado do cérebro. Os jovens amealham kilobytes de informação por dia, a um ritmo muito maior do que o do processamento e eliminação do lixo, (há informação que um jovem de dez anos hoje, nunca processará!), numa atitude muito passiva, ou em linguagem mais in, numa atitude muito artística. Surge sim, e apenas, a necessidade de aumento da capacidade de reter informação, como se numa casa houvesse apenas a necessidade de ter armários e gavetas…

O cérebro humano desenvolveu-se através da experiência, através das motivações motoras, que desencadearam um processo de milénios. Foi, por exemplo, a necessidade de caçar melhor, mais rentavelmente, etc., que criou condições para o “crescimento” cerebral. Hoje em dia, a passividade tomou conta do dia-a-dia da juventude, aquela mesma juventude que se auto rotula de irrequieta e com febre no dia de Sábado à noite…

 

pelos meados de Maio de 1995
Bórgia Ginz





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