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ZINUM EXTRA-PEDAFFILIS, por Bórgia Ginz

Bórgia Ginz

CANTO A MALDOROR

 

É noite.
Nada segue o passo inseguro
que esboças suavemente no ladrilho poeirento
da tua alma.
Aconchegas a súplica errante da morte.
Orquestras o animal latente
que em ti geme e vocifera:
“Hei, Maldoror! Levas aí a tua dor?”
Caminhas.
Em sangue te violas e contrafazes.
Erras por caminhos escuros
e vais de encontro à parede embrutecida,
até que o teu corpo se desfaça
em silvos agudos de sofrimento.
Mas tu és um monstro!
És capado e congruente de for a para dentro!
Mais um passo.
Mais uma penúria…
“Hei, Maldoror! Levas aí a tua dor?”
Essa dor que refrescas constantemente e
acolhes de braços abertos.
Teimoso!
Segues a tua sombra
de noite e escuridão feita,
que depois do ocaso tudo se amansa
e o temporal é bonança.
Pássaros carnívoros rodopiam à tua volta.
“Hei, Maldoror! Levas aí a tua dor?”
Em frente! que atrás fica o mistério!
Em frente! que atrás fica a volúpia!
Em frente! que para trás nada fica!
Alcanças o muro de mármore que perseguias.
Sentes-lo com o teu nariz
enregelado e amarelecido.
E cantas!
Sempre em frente! Sempre em frente!
“Hei, Maldoror! Levas aí a tua dor?”
Mas como és pedante!
Que figura triste, meu Deus!
“Maldoror! Hei, tu aí! Levas a tua dor?
Se não dou-te um tiro entre os olhos!”
Não me ligas.
A nada ligas.
Flores inacabadas prendem-te os movimentos.
Esforças-te por tentar mais
um passo.
Em vão…
E cantas copiosamente uma valsa funerária,
de trombetas cheia,
e cravos velhos e murchos entupida.
Ála! Para a frente!
O passeio acaba,
acaba o caminho.
Agora é só terra e montes de carvão
fumegante.
“Hei, Maldoror! Levas aí a tua dor?”
Pimba!
Um toro esmaga-te o crânio.
O lenhador louco afasta-se
contorcendo-se de riso.
Foste mais um paspalho apanhado na sua armadilha!
“Hei, Maldoror! Levas aí a tua dor?”
Sentes a vida em sangue.
Sentes a vida numa mortalha negra
prematuramente enterrada.
Já não vais a lado nenhum.
Que o mundo fechou-se para ti.
Acaba-se o mundo quando te acabas,
e a beata que fumas é velha
como a morte.
“Hei, Maldoror! Levas aí a tua dor?”
“Não, meu querido pai! Eu já não sinto dor!
Agora, sinto-me apenas capaz de provocar a dor!”

 

§§§
 

 

NEORUM

 

 

Um olhar que se encobre
em mil subterfúgios de semiescuridade.
Nada que lhe fale de ardor
e penumbra do sentir que já foi lei.
É um resto de carne que se teme
no toque que é subtil,
porque subtil se forma em candeias azuis
de perversão.
É uma mão que se atemoriza
pela existência cruel de um torpor inalcansável.
Porque o medo extravia-se.
Porque… sente-se medo e ódio que
se fundem,
em avaliação subtil de um foco de luz que é negra
como a noite.
De um eclipse carnal se estiola.
De medo coabita um ser que não é
perfectorial de sede e fome.
E nada alcança o medo!
Tudo se funde em zonas de metazonas,
como uma flor que nasceu sem saber.
E o latir cresce por dentro de
um cérebro em plena extinção.
Extinção de um querer mórbido que já foi
mórbido e que agora não é mórbido,
não é nada.
A faca que se afia está pronta
para o corte final que não é fatal.
Dá-nos e transpõe-nos a passagem métrica
daquilo que nada nos é perfectorial e mudo.
Mudo… tal como surdo…
Apenas o sentido não se transfigura em mim.

Claro que chove e não estou molhado.
Mais uma traição da alma.

 

§§§
 

 

MORTUS

 

Eis que a morte chega pela madrugada
acompanhada ostensivamente por seus mil
servis lacaios.
Entoam-se
cantos de louvor eterno
e uma corneta pingente e chorosa
vai desfilando em frente
a meus incrédulos olhos toda uma
imensidão de horrores e coisas tétricas que tais.
Não encontro em mim
forças necessárias
para me manter de pé e quedo-me tristemente
no chão sangrento que suavemente me acolhe.
Dois guerreiros de serventia
cortam-me placidamente
as penosas asas que exibo a
encimar os meus débeis ombros,
e brutalmente arrancam a auréola de metal que levita
sobre a. minha cabeça.
Sinto-me penetrar pela morte!
O anjo caído que sou eu,
em mármore pálida se transforma!
Queixo-me da dor atroz que me afogueia a face
a desvairo-me para além.
É assim a morte!
O fim do anjo que nos dá vida!

 

§§§
 

 

INANIA VERBA

 

Esforço-me em voltas suspensas
pelo ar intenso da manhã
por encontrar
as mãos tensas
e frias
e lívidas
e suadas
do teu cérebro imundo que não
é mais do que o fugitivo esgar
que me persegue
noite fora
até não mais me poder
sentar na cama fria
que me espera sossegadamente no aconchego
da minha tumba
repleta de flores garridas milagrosamente
pelo Sol dourado
que inunda
este belo antro de pecado onde decidi
por fim
ancorar a minha alma já cansada
de tanto escrever nestas
folhas
frias
e cruas
que tão nada me dizem
ao de leve ciciando
e gemendo estupidamente de prazer.

 

§§§
 

 

BRANCO

 

Há noites de insónia branca
reflectidas no espelho ondulado do quarto,
pequenas luzes que se escoam
no meio de sonos fugazes e esquecidos.
Há um corpo que se mexe na cama
solitária onde houve adeus matinal.
E na sede reside o encanto…
Pequenas barbas perdem-se nos lençóis.
Sol, luz, amor, alheamento…
As paredes
brancas de um enclausoramento subtil e agradável.
Eu…
Cabelo vermelho,
cabelo verde.
Há castelos que são fortes, os nossos!
Uma viagem.
Uma doideira subtil.
Dentes a quererem sono,
em camas de lençóis cheios de confusão,
de amanheceres distorcidos,
brancos,
da tua pele inundados e…
mudos.
Poeira cósmica sobre mim…
Hoje,
o mundo apresenta-se-me branco,
um branco salpicado de muito negro,
na intensa luminosidade do
lusco-fusco inebriante.
A calma quebra-se…
Ruído,
confusão,
distorção.
Há música no ar. Dancemos livremente…
Há noites de insónia branca
reflectidas no espelho ondulado do quarto.

 

§§§
 

 

CISNE

 

Dorme, dorme,
pequena sereia azul em mar turvo de lágrimas.
Segues o teu sonho
com a palidez da tua face adormecida.
Os teus dedos esguios e suaves
calculam trajectórias recambolescas nos
meus caracóis pretos de carvão.
E acordas de mansinho
para me tocares nos lábios
com o teu suave embalo de paz.
Dorme, dorme,
pequena sereia azul que és rainha em harém de cristal.
Se eu fosse peixe
tu serias Deusa.
Se eu fosse mar
tu serias gotícula a contraluz.
Mas eu sou homem!
Mas eu sou carne!
E tu és simplesmente… recordação amena.
Novas de outros mundos
trazem-me aromas de ti,
em êxtase fundidos numa só alma
que adivinha o ocaso de mais um Sol nascente.
E a noite encaminha a solidão para
a rocha mais dura.
Dorme, pequena sereia, dorme.
Eu estou aqui.
Eu durmo a teu lado.

 

§§§
 

 

BRONSSI

 

Lon Min of tuly
Ie donc par beltran
Ka ess Kas et june
Ik tong pum pum

Sor per la fool des viles
Ik tong pum pum lokes
Dir fias el transksection
Jor lion filles et Ka ess Kas

Rimbaud loked in furt
Gonmeyer flip flop transisteur
Duct ca los tier
Ta beltran et Ka ess Kas

 

§§§
 

 





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